sexta-feira, novembro 11, 2011

156

ESPECULAÇÕES


Ela estava na estação de trem aguardando pra ir à realidade. Mal sabia que teria que passar pela cidade porca. Estava acompanhada de colegas (amigos não; não  os possuía) com uma bolsa imunda. O trem parou e os colegas entraram. Eram dois homens, uma garota e uma prima. Havia muitas pessoas e ela não conseguiu entrar. Pra variar, ficou para trás. Eles foram e a deixaram.
Ligou para eles, e marcaram de se encontrar na estação final. O próximo trem veio, e ela entrou. Sentou num canto do lado oposto ao homem que dormia coberto por uma jaqueta velha. A estampa desbotada do Hard Rock estava suja. Ela olhava a paisagem morta que passava, à medida que o trem andava. Sentiu um perfume estranho, e sem olhar para a  esquerda, percebeu que alguém havia se sentado ao seu lado. Olhou-o por meio segundo e voltou-se para a janela novamente.
-Eles não te esperaram, não é? Nem tentaram segurar a porta do trem para você entrar. – diz ele, coçando de leve a barba por fazer.
-Não.
-E meu filho? Como está?
-Bem.  Ainda não mexe, mas fiz exames e ele está bem.
-Você está linda. – Ela ansiava por dizer o mesmo, pois era a verdade, mas não disse.
Chegou a estação final. Ambos desceram e ele se afastou sem dizer nada. Ficou a alguns metros analisando-a olhar de um lado para o outro, totalmente perdida, procurando pelos colegas.  Ela olhava no relógio, trocava a bolsa de mão, e tentava não parecer triste (?), pois sabia que ele estava olhando.
-Venha comigo. – ele disse aproximando-se e tomando a mão dela.
Ela foi. Sem medo.
Entraram no prédio e foram direto para o quarto, arrancando as roupas de forma rápida e desesperada. Ainda bem que os lençóis estavam limpos. Ela estava aproveitando aquele momento intenso e sexy como se fosse pela última vez. “E se ele descobrir que eu não estou grávida de jeito nenhum?” Era a pergunta que pairava em sua mente, enquanto arranhava as costas dele.
Depois ela saiu e foi em direção ao quarto da prima. Sem mais nem menos começou uma discussão que nenhuma das duas conseguia fazer parar. Descalça, ela pegou o álcool que estava sobre a penteadeira e espalhou pelo chão. Acendeu o fósforo e o jogou para trás, saindo do quarto sem peso na consciência. Correu, calçou as botas e desceu as escadas do edifício o mais rápido que conseguiu. Mas já era tarde. A polícia e os bombeiros já estavam lá. Correu para a casa do conhecido mais próximo, e horrorizava-se com sua tranquilidade. Remorso? Nunca. Ela sorria. Um sorriso de prazer. Satisfação. Mas, como? Onde foi parar a menina doce que todos amavam, respeitavam e admiravam? A garota forte, que atravessava obstáculos? Perdeu-se. Por culpa de quem? Da vida. Da
Tentava buscar respostas que não encontrava. Que vazio é esse entre a mentira de uma gravidez e a verdade de uma garota estéril? Entre a morte de alguém que ama e o local para onde ele vai? Entre a vida e a morte? Entre a realidade sonhada e o sonho vivido?




156 - Music by MEW

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