terça-feira, janeiro 22, 2013

Since You're Gone


Medo

O cemitério estava silencioso naquela noite de 13 de agosto. Os mortos descansavam em suas tumbas enquanto a dama de branco passeava devagar pelos caminhos abertos entre as covas. Visitar os túmulos era algo que a acalmava, principalmente em noites solitárias e cheias de sereno. De longe ela avistou a maior tumba do cemitério. Um corvo descansava em cima da lápide, e sua sombra tinha tamanho triplicado por causa da forte luz da lua cheia.
De repente ela avistou uma sombra parada frente à tumba ao lado da maior lápide. Era aparentemente a sombra de um homem que usava um chapéu e sobretudo preto. Ela se escondeu atrás da lápide de John A. Smith, pisando diretamente na cova. O homem misterioso ergueu uma das mãos à altura da cabeça e a tampa daquele túmulo começou a abrir. Ela sentiu seu corpo mais arrepiado que nunca,  e sabia que não era por conta do frio que fazia. Tentou manter a calma e continuou observando.
O homem entrou na tumba, e daquela distância ela só conseguia ver a metade do corpo dele fazendo alguns movimentos bruscos, porque da cintura para baixo a cova cobria seu corpo. Ela quis correr, mas ficou totalmente travada. Era uma garota exótica e não negava que na adolescência até chegara a transar com um namorado em cima de covas. Mas jamais entraria dentro de alguma.
A garota fechou os olhos, tentando criar coragem para sair correndo. Abriu rapidamente os olhos e virou-se num movimento brusco,  tentando correr rumo aos portões macabros do cemitério. Mas algo a barrou.
A criatura estava na frente dela.
Não era um homem, mas um verdadeiro monstro. Tinha as feições mais bizarras que já vira, os olhos eram grandes e amarelos, no lugar do nariz tinha um buraco e a boca tinha cerca de cinquenta centímetros de diâmetro, com dentes pontudos e afiados, nos quais havia muitos pedaços de carne humana. O rosto da criatura estava ensanguentado e ele estava imóvel. Parecia não respirar, apenas fita-la com perseverança.
Ela soltou um berro, mas nenhum som saía. Sentia-se num sonho em que não podia acordar e tentava gritar, mas sem sucesso. Tentou andar, mas as pernas estavam duras. A criatura ergueu uma das mãos exageradamente grandes e depositou-a no pescoço da garota. Levantou-a acima da sua cabeça e soltou um grunhido macabro. A criatura torceu o pescoço dela, que pôde ver que o corpo que jazia no maior túmulo estava totalmente dilacerado. O homem misterioso havia comido quase todas as partes restantes do cadáver  em decomposição, deixando para trás apenas os dois braços e a cabeça.  Ela finalmente gritou. Um grito de horror, um grito apavorado.  
Então ela abriu os olhos.
A menina estava em sua cama de princesa, depositada no canto de um quarto cor-de-rosa cheio de brinquedos e ursos de pelúcia. Ainda bem que era só um sonho. Deitou-se novamente, agarrando a vaquinha de pelúcia junto a si, enquanto fechava os olhos rumo a sonhos melhores. Tinha apenas cinco anos e não entendia o motivo de sonhos tão feios. Prelúdios de um futuro próximo, quando ela deixaria de ser a garotinha amada com medo em sua cama, e passaria a frequentar cemitérios em noites frias.




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