Medo
O cemitério estava silencioso naquela noite de 13 de agosto.
Os mortos descansavam em suas tumbas enquanto a dama de branco passeava devagar
pelos caminhos abertos entre as covas. Visitar os túmulos era algo que a
acalmava, principalmente em noites solitárias e cheias de sereno. De longe ela
avistou a maior tumba do cemitério. Um corvo descansava em cima da lápide, e
sua sombra tinha tamanho triplicado por causa da forte luz da lua cheia.
De repente ela avistou uma sombra parada frente à tumba ao
lado da maior lápide. Era aparentemente a sombra de um homem que usava um
chapéu e sobretudo preto. Ela se escondeu atrás da lápide de John A. Smith,
pisando diretamente na cova. O homem misterioso ergueu uma das mãos à altura da
cabeça e a tampa daquele túmulo começou a abrir. Ela sentiu seu corpo mais
arrepiado que nunca, e sabia que não era
por conta do frio que fazia. Tentou manter a calma e continuou observando.
O homem entrou na tumba, e daquela distância ela só
conseguia ver a metade do corpo dele fazendo alguns movimentos bruscos, porque
da cintura para baixo a cova cobria seu corpo. Ela quis correr, mas ficou
totalmente travada. Era uma garota exótica e não negava que na adolescência até
chegara a transar com um namorado em cima de covas. Mas jamais entraria dentro
de alguma.
A garota fechou os olhos, tentando criar coragem para sair
correndo. Abriu rapidamente os olhos e virou-se num movimento brusco, tentando correr rumo aos portões macabros do
cemitério. Mas algo a barrou.
A criatura estava na frente dela.
Não era um homem, mas um verdadeiro monstro. Tinha as feições
mais bizarras que já vira, os olhos eram grandes e amarelos, no lugar do nariz
tinha um buraco e a boca tinha cerca de cinquenta centímetros de diâmetro, com
dentes pontudos e afiados, nos quais havia muitos pedaços de carne humana. O
rosto da criatura estava ensanguentado e ele estava imóvel. Parecia não
respirar, apenas fita-la com perseverança.
Ela soltou um berro, mas nenhum som saía. Sentia-se num
sonho em que não podia acordar e tentava gritar, mas sem sucesso. Tentou andar,
mas as pernas estavam duras. A criatura ergueu uma das mãos exageradamente
grandes e depositou-a no pescoço da garota. Levantou-a acima da sua cabeça e
soltou um grunhido macabro. A criatura torceu o pescoço dela, que pôde ver que
o corpo que jazia no maior túmulo estava totalmente dilacerado. O homem
misterioso havia comido quase todas as partes restantes do cadáver em decomposição, deixando para trás apenas os
dois braços e a cabeça. Ela finalmente
gritou. Um grito de horror, um grito apavorado.
Então ela abriu os olhos.
A menina estava em sua cama de princesa, depositada no canto
de um quarto cor-de-rosa cheio de brinquedos e ursos de pelúcia. Ainda bem que
era só um sonho. Deitou-se novamente, agarrando a vaquinha de pelúcia junto a
si, enquanto fechava os olhos rumo a sonhos melhores. Tinha apenas cinco anos e
não entendia o motivo de sonhos tão feios. Prelúdios de um futuro próximo,
quando ela deixaria de ser a garotinha amada com medo em sua cama, e passaria a
frequentar cemitérios em noites frias.
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