sexta-feira, julho 13, 2012

My Medicine


Maybe Just a Bad Dream

Todos naquele carro sorriam e contavam piadas a respeito do feriado prolongado que estava a caminho. O motorista esboçava aquele sorriso amarelo e sujo ao lado da mulher mais velha, de olhos apertados. Eu estava no banco de trás e ao meu lado uma mulher parecia dormir. Aquela cena era comum no nosso dia a dia, porém algo não se encaixava. Um rock alternativo tocava no rádio do carro enquanto eu tentava sair da espiral de loucura que aquela cena me proporcionava. Teria sido o drink oferecido meia hora atrás no bar próximo a um antigo vilarejo? E aquela estrada de duas mãos nunca tinha fim. Olhava pela janela, só árvores eram enxergadas naquela escuridão. Minha língua enrolava quando eu tentava perguntar “Onde estamos indo?”. Certamente aquele não era o caminho diário, o caminho de casa. Viro para a direita para tentar acordar aquela mulher que com certeza era a mais sã naquele carro. Fria, gelada e cheirando a bebida alcoólica. Não sei como não percebi que ela estava morta.

O carro encosta na beira de um barranco. Não queria mais participar daquilo.

Acordei no banco da igreja... Como fui parar lá? Enfim pude respirar fundo e bem tranquila, estava num local seguro, apesar de as minhas roupas (um jeans preto colante rasgado e uma camisa branca, solta e decotada) não combinarem com a ocasião. Ajoelhei-me para rezar e meus cabelos longos e muito negros cobrem todo o meu rosto. Fechei os olhos para me concentrar na oração, mas um grito de pavor me faz abrir meus olhos azuis cobertos pela maquiagem negra. A porta da igreja se abriu quase que totalmente, sozinha. Andei devagar em direção ao outro cômodo que ficava atrás desta porta, mas parei no meio do caminho. Sim, era possível ver a ponta do caixão e à medida que eu dava um passo e outro posso ver o corpo do defunto se revelando. Estranha sensação. A morta estava sentada no caixão. Os olhos estavam  arregalados e  a boca entreaberta. Curioso que a tenham maquiado tanto para seu funeral, mas pode ser por conta de sua extrema vaidade durante a vida. Aqueles que velavam seu corpo eram pessoas conhecidas e a garotinha de aproximadamente seis anos eu não sabia quem era.  A menina olhava o corpo da mãe com o olhar triste e perdido, de quem não estava entendendo muito bem o que estava acontecendo. Aquelas paredes brancas de repente começaram  a escurecer. Um líquido negro começara a escorrer e molhar todo o local, mas todos no funeral pareciam não perceber. Ficaríamos inundados se não fugíssemos dali logo. Meus gritos de pavor pareciam não ser ouvidos e da boca da morta o mesmo líquido começava a escorrer. Saí correndo daquele local, deixando tudo para trás. Imaginei que encontraria um céu nublado mas não foi o que aconteceu. A rua arborizada estava bem iluminada e as folhas das árvores balançavam num ritmo agradável. Estava tão atordoada que demorei a perceber que já era dia. Sim, já era dia e eu podia voltar a ser um ser humano normal, indo para casa tomar minhas pílulas e passear sozinha (?) pelas minhas neuroses.


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