Maybe Just
a Bad Dream
Todos naquele carro sorriam e contavam piadas a respeito do
feriado prolongado que estava a caminho. O motorista esboçava aquele sorriso
amarelo e sujo ao lado da mulher mais velha, de olhos apertados. Eu estava no
banco de trás e ao meu lado uma mulher parecia dormir. Aquela cena era comum no
nosso dia a dia, porém algo não se encaixava. Um rock alternativo tocava no
rádio do carro enquanto eu tentava sair da espiral de loucura que aquela cena
me proporcionava. Teria sido o drink oferecido meia hora atrás no bar próximo a
um antigo vilarejo? E aquela estrada de duas mãos nunca tinha fim. Olhava pela
janela, só árvores eram enxergadas naquela escuridão. Minha língua enrolava
quando eu tentava perguntar “Onde estamos indo?”. Certamente aquele não era o
caminho diário, o caminho de casa. Viro para a direita para tentar acordar
aquela mulher que com certeza era a mais sã naquele carro. Fria, gelada e
cheirando a bebida alcoólica. Não sei como não percebi que ela estava morta.
O carro encosta na beira de um barranco. Não queria mais
participar daquilo.
Acordei no banco da igreja... Como fui parar lá? Enfim pude
respirar fundo e bem tranquila, estava num local seguro, apesar de as minhas
roupas (um jeans preto colante rasgado e uma camisa branca, solta e decotada)
não combinarem com a ocasião. Ajoelhei-me para rezar e meus cabelos longos e
muito negros cobrem todo o meu rosto. Fechei os olhos para me concentrar na
oração, mas um grito de pavor me faz abrir meus olhos azuis cobertos pela
maquiagem negra. A porta da igreja se abriu quase que totalmente, sozinha.
Andei devagar em direção ao outro cômodo que ficava atrás desta porta, mas parei
no meio do caminho. Sim, era possível ver a ponta do caixão e à medida que eu dava
um passo e outro posso ver o corpo do defunto se revelando. Estranha sensação.
A morta estava sentada no caixão. Os olhos estavam arregalados e a boca entreaberta. Curioso que a tenham
maquiado tanto para seu funeral, mas pode ser por conta de sua extrema vaidade
durante a vida. Aqueles que velavam seu corpo eram pessoas conhecidas e a
garotinha de aproximadamente seis anos eu não sabia quem era. A menina olhava o corpo da mãe com o olhar
triste e perdido, de quem não estava entendendo muito bem o que estava
acontecendo. Aquelas paredes brancas de repente começaram a escurecer. Um líquido negro começara a
escorrer e molhar todo o local, mas todos no funeral pareciam não perceber. Ficaríamos
inundados se não fugíssemos dali logo. Meus gritos de pavor pareciam não ser
ouvidos e da boca da morta o mesmo líquido começava a escorrer. Saí correndo
daquele local, deixando tudo para trás. Imaginei que encontraria um céu nublado
mas não foi o que aconteceu. A rua arborizada estava bem iluminada e as folhas
das árvores balançavam num ritmo agradável. Estava tão atordoada que demorei a
perceber que já era dia. Sim, já era dia e eu podia voltar a ser um ser humano
normal, indo para casa tomar minhas pílulas e passear sozinha (?) pelas minhas
neuroses.
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