Nunca Mais
Era a cerimônia mais fúnebre que ela já havia presenciado.
Subir ao altar com aquele homem numa tarde de verão parecia mais que perfeito.
A luz do sol brilhava contra os cabelos loiros dela, e todos os olhos se
voltaram ao grande anel que ela trazia na mão. Aos olhos cegos de todos que ali
estavam, aquele era o casamento perfeito, ideal. Mas não, não era o que ela
queria. O que ela de verdade queria era que sua segunda personalidade aflorasse
e do meio dos seios ela pudesse tirar uma faca de estripar porcos. Ali mesmo arrancar
todas as tripas, todos os órgãos e principalmente o coração daquela que a
estava obrigando a se casar com aquele bilionário. Sim, como sempre era por
culpa dela que aquilo estava acontecendo, como pode deixar uma mulher feia,
amarga e fingida dominá-la por tanto tempo? A noiva pensava em como aquela mulher
velha e flácida pudera ter tomado o controle de sua vida durante todos estes
anos. Sim, ela era apenas uma garota quando conheceu aquela mulher amarga que
tentava demonstrar uma vida perfeita diante de todos. No fundo sentia pena
porque sabia que ela só poderia ser frustrada para manipular uma jovem com um
futuro promissor. Mas o belo nem sempre se mostra belo até o fim, um dia a máscara
cai. Para o azar de Lizie a máscara daquela bruxa manipuladora só veio a cair
quando já estava ouvindo “sim” do homem rico, bonito e dominador que estava a sua
frente. Ela ficaria calada mais uma vez e arruinaria toda sua vida, seu futuro?
Não. Lizie criou a coragem que lhe faltou durante anos para dizer não. E não
estava dizendo não só ao casamento, estava dizendo não àquela mulher velha de
batom vermelho, àquela mulher malvestida. Virou-se lentamente e num olhar sutil
imaginou a morte dolorosa e sangrenta da velha. Desceu os dois degraus e foi em
direção a ela, simplesmente deixando os pensamentos mais malignos finalmente aflorarem.
Com o dedão e o dedo indicador apertou o pescoço da velha com força, sentindo
um gosto doce na boca (o gosto da vingança) quando finalmente furou a pele da
vadia com suas compridas unhas. Todos os convidados estavam extasiados demais
com a cena para impedir que Lizie continuasse, e isso a fez ter certeza que uma
força negra estava a seu lado. Ou dentro de si. Todos os dedos agora penetraram
na pele dela e a noiva sentiu imenso prazer ao ver o sangue dela escorrer por
seu braço. Lizie a jogou no chão e levantou-se. Andou em direção ao fundo da igreja
e o sol continuava a iluminá-la. Saiu da igreja e arrancou o vestido com toda a
força, deixando à mostra a lingerie branca que usaria naquela noite para selar
a maldição de sua vida. Mas agora que era uma mulher livre, não precisaria mais
obedecer a ordens para fazer coisas que seu corpo repugnava. Lizie desceu a rua
íngreme com o sangue pingando das pontas dos dedos, sentiu a brisa bater em seu
rosto e finalmente soube o que era
liberdade.
Light Me Up - by The Pretty Reckless
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